A ansiedade tomou conta do seu corpo. De três em três tempos batia a pontinha dos pés no chão, mordia os dedos, enrolava e desenrolava os cabelos cada vez com mais vontade. Dessa vez fugiria da razão. Havia ficado com seus amigos além da hora que podia, esperava o momento certo ou alguma brecha de palavra sem fim para poder remendar com o sentimento que aflingia seu coração. Estava sentada num canto, puxando fios rasgasdos da blusa xadrez que cobria seu frio. Parou. Ia olhar as horas. O tempo estava passando. Não pôde, acho que os ponteiros se embaralharam. No momento em que o desespero destampou seus olhos, quis talvez nunca ter enxergado. Eles pareciam tocar uma melodia, sua mão descia pelos compridos cabelos negros e abraçava sua cintura fina. Suspiros. Suspiros. Lágrimas. Não importava mais que a hora do chá fosse perdida, ela havia perdido todo o seu chão e agora não haviam motivos para as pontinhas dos pés, para morder os dedos e se pudesse ela teria arrancado os próprios cabelos. Tentou fingir que suas lágrimas eram por outros motivos e todos pareciam acreditar em suas palavras. Ela mesma tentava se convencer com elas, mas era impossível mentir para o que seus olhos ainda viam. Tentou se concentrar no que os outros garotos faziam com o violão, mas por mais que tentasse não conseguia ouvir. Ecoava em seus tímpanos o desejo de ir embora dai. Era hora de ir, mas antes entrou no banheiro. Achou que queria se olhar no espelho, procurar por algum defeito que fizesse tudo ter sentido. A porta se abriu, era ela. Ficou ao seu lado, divindo o mesmo objeto de vaidade e orgulho. Ela tinha uma expressão tão feliz, sentiu-se triste. Sentiu raiva. Não controlou suas palavras, mas não conseguiu dizer nada. Nada que significasse o que ela realmente queria dizer. Lhe deu um sorriso tão sincero (e isso nem ela própria poderia negar) que sua garganta secou. Bebeu água. Correu o mais rápido que suas pernas bambas conseguiam equilibrando tanto peso nas costas. Foi embora dizendo à cada casa que passava que não estava sofrendo. Não estou sofrendo. Não estou sofrendo. Não estou sofrendo. Abriu a porta e antes que pudesse perceber se afundou em lágrimas com pitadas de um chocolate vermelho, cor de sangue.
*** O coração dela estava partido e antes que ele pudesse ler sua carta de despedida, outro já havia juntado os pedaços que de três em três tempos cairam no chão.
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