Todos se calam e olham pra mim e, então, eu sorrio, mas não muito. Nada de mostrar os dentes, nada muito contente. Viro as costas e caminho. Cada passo um sofoco, um aperto no peito, um peso nas costas. Tudo escurece. Céus, tão claustrofóbico. Respiro, hora de seguir adiante. Você consegue. Se você repetir para si mesmo repetidamente ou compulsivamente ou perversamente que tudo está bem, bem, uma hora você pode começar a acreditar nisso. Se afundar na rotina às vezes funciona, às vezes não, mas quando não funciona é melhor se preparar. A maior parte do tempo é perfeitamente aturável, nada que te faça sentir vontade de cortar os pulsos ou dar um tiro de 12 no seu lobo frontal. É assim porque você está dopado de trabalho, de cansaço, de contas, de obrigações. Na maior parte do tempo você quer estar dopado, pra fugir das frustrações. Pílulas, líquidos, papéis, plantas na sua boca, no seu sangue, na sua cabeça. Hoje, enquanto finjo sorrir, nada disso ainda funciona. O que eu quero, o que eu preciso, eu não posso ter. Acabou. Pra sempre. A vida de um viciado em abstinência não é muito agradável, não é apenas sentir falta, é sentir cada parte do seu corpo implorando pelo que você não pode ter. Mas quando a necessidade bate, e você quase consegue sentir o gosto, o cheiro, o calor perto de você, esconda-se. Esconda-se dos seus desejos, ou seus desejos te trancaram num hospício. Me sinto doente, psicótica, apaixonada. Enquanto esse dia não acaba, me levanto e digo em voz alta: "meu nome é Lorrayne Colares, tenho 19 anos e não amo há dez meses".
3 comentários:
tá bem de abstinência, né?
o meu relato é quase o contrário: acho que amo já há 10 meses, hihi.
Eu gostei muito da ideia desse texto, fabulosa, moça leminska (:
Eu acho bom ou ruim esse lance de não amar há dez meses? E que maluquice é esse de contar os dias de ''desamar''? Ai, ai.
hahaha Só sei que eu fui do começo ao fim com o sorriso abrindo, porque o ritmo foi bom demais.
Beijo, leminska linda =* rs
oi, frô de lô.
esse texto foi lindo! daqueles que arrancam um sorriso no final de 'por que ninguém escreveu isso antes?', rs.
gênia leminska. :*
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